Capa da edição da Editora 34

“Tudo está ao alcance do homem e tudo lhe escapa”

Maria Angélica Martins
1 min readDec 28, 2018

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Há três anos, num dia como este, concluí a leitura de Crime e Castigo, do extraordinário Dostoiévski. Lembro-me do impacto de fechar o livro, havia passado uma semana dentro de um cenário de 152 anos atrás (agora, 155), numa mente enigmática como a de Raskólnikov, e senti tanta empatia por ele... Ao perceber, fiquei atônita. Mas, talvez, tenha sido esta a intenção do Dostoiévski: mostrar o Raskólnikov que existe em nós. Queremos ser suficientes, autônomos, mas vivemos entre a culpa e a punição, as nossas decisões nos entristecem mais do que gostaríamos e, ainda, revelam quem somos - certamente é a pior parte, mas também a mais necessária. Necessária porque nos faz enxergar que, como a velha e boa canção do Scorpions, "All we are is dust in the wind". Precisamos de redenção. E ela vem num ato de humildade, como o de Raskólnikov, lançado aos pés da jovem Sônia...e quem era Sônia?

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Maria Angélica Martins

Socióloga e cientista da religião (UFJF/University of Copenhagen). Pesquiso, escrevo, ensino