Deus acima de Deus

Maria Angélica Martins
2 min readNov 7, 2020

Paul Tillich (1886-1965), foi um importante teólogo protestante do século XX; mais que erudição, vemos em suas obras alguém que viveu. Alguém que sabia do que falava. Tillich experimentou o horror das duas grandes guerras — não, nós não sabemos, de fato, do que se trata, “conhecemos apenas de ouvir falar" — e isto o colocou na busca do "Deus acima de Deus". Essa busca de Tillich faz muito sentido para minha história hoje. Como alguém que cresceu no universo evangélico brasileiro, e como alguém que, como qualquer ser humano, observa outros modos de vivência ao longo da própria experiência de vida, desenvolvi um olhar crítico para certos jargões que costumam proliferar nesse meio. Costuma-se ter certeza de tudo; nós sabemos como Deus é, como procede, como se comporta, como julga e faz valer sua vontade; temos certeza de como será o fim dos tempos, de como será a vida eterna. Todas essas coisas, por vezes, estão definidas em confissões de fé — as quais têm sua razão e valor, não é esse o meu ponto. O meu ponto é: por vezes a doutrina se sobrepõe à vida. No entanto, ela não abarca a vida e daí surgem os nossos maiores conflitos.

Cena do filme Árvore da Vida, do diretor e roteirista Terrence Malick.

Como aponta Rubem Alves (1987), não importa mais o que se fala sobre Deus, mas sim como se vive no mundo recebido com dádiva de Deus. Quando se alcança essa consciência, pode-se experimentar a beleza da vida; o amor e a graça de Deus, que dispensa toda culpa ou, como diz Carlos Drummond de Andrade, “o sentimento do mundo".

Referência

ALVES, Rubem. Da Esperança. Campinas: Papirus, 1987.

TILLICH, Paul. A coragem de ser. 6ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.

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Maria Angélica Martins

Socióloga e cientista da religião (UFJF/University of Copenhagen). Pesquiso, escrevo, ensino